já me consigo esperar
equilibro pernas retorcidas , esperando-me
já hoje o consegui assim
de sapatos duros
pernas recolhidas em tecido de renda ...
já hoje me esperei assim
já me consigo esperar
áspera me deixo ficar
aprendi a colocar os pés ...
aprendi como me equilibro em cimento duro
entorto tornozelos só para os ouvir
ranger
consegui sentir-me só
deixar-me estar assim
rangendo
sem pressa de correr
em cima
de sapatos duros ...
meias cerzidas em renda áspera
corta-me as pernas em golpes finos
já me consigo esperar
sinto tanto frio
mas
já me consigo esperar
na enorme esperança de um dia
me poder descalçar
doem-me as pernas de tortas que estão
oiço o abrir dos golpes que me dão
forço a rigidez estática
forço a minha espera
porque só assim me consigo esperar
sozinha num chão sem ninguém
de cinzento me esfria
paraliso-me
áspera me deixo esperar
rígida me desespero
sem equilibro me sustento
de sapatos duros
pernas retorcidas ...
de golpes abertos
tornozelos que estalam
nos segundos da minha espera
já me consigo esperar
aprendi hoje
em cima daqueles sapatos duros
calçada com as tuas rendas
já me consigo esperar
aprendi hoje
espera por mim aí ...
não caías por mim...
porque hoje
tenho frio
e já
me consigo esperar
sem cair...
TMQueiroz / 9 Outubro 2010
foto / Janjan Pais
2 comentários:
com estes sapatos é que eu não me equilibrava...
[complicado desaprender o andar no mundo, percorrer ruas inteiras como se fossem becos, avenidas desertas com um nós, dentro; regressar ao momento em tudo acaba ser ter aprendido a começar, por descuido... reaprender, também é andar]
um imenso abraço, Teresa
Leonardo B.
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