Em pontas pardas e soltas num pedaço de corda
que não podia ser teu
amornei a ponta dos meus dedos
ontem...
fazia círculos pequenos
suavizando pontas ásperas
que de ásperas só tinham o parecer
ontem...
afagava e amarrotava
o teu linho
com a palma da minha mão
aquecia-me nessa corda pardacenta
e essas pontas
essas soltas...
as que me pareciam ráfia ao olhar
só com as minhas duas mão as consegui alisar
alisei-te
sentiste?
amornei-te
sentis-te?
afaguei-te
sentiste?
ontem...
afaguei pontas ásperas
que de ásperas só tinham o seu parecer
Num afago doce
revolvi pontas ásperas
tornando-as fios sedosos
em pequenos círculos
alisei essa corda pardacenta
essa
que se me apresentava assim
pontas soltas de ti
que teci
e
rendilhei
na ponta dos meus dedos mornos
numa renda quase frágil
que se pode desfazer puxando
mesmo sem querer
um fio qualquer
um que tenha ficado solto por aí
ontem...
pintei essa corda parda
de seda
ao meu tacto
com odor de linho amarrotado
que entranhava o meu olfacto
com sabor a algodão
quase doce
quase leve
soube-me assim ...
esse teu cordão tão desfiado
e pardo
e nessa ponta de corda
de pontas soltas
descobri o teu novelo
da mais pura e
macia lã
enrolei-o por momentos
e num inesperado instante
todas as pontas que se soltavam
se esconderam de ti
dentro daquele novelo
em que suavemente
te enrolava
ontem...
rendilhei as pontas soltas
numa renda frágil
enrolei pontas
tornando-as num fio contínuo
num novelo enorme
que me cabe na palma das minhas mãos
hoje...
aliso-te na lembrança do teu tão suave tacto
hoje...
recordei o odor daquela seda sem cheiro
hoje...
recordei o teu linho amarrotado
porque só o linho se amarrota assim
suavemente
Senti que
afaguei pontas ásperas
que de ásperas
só tinham o seu parecer ...
Teresa Maria Queiroz/ 1 de Novembro 2010
Foto / Sonja Valentina
2 comentários:
Teresa,és uma fonte inesgotável de inspiração...gostei,e muito!
Bj*
Xin chao cac bac, em la thanh vien moi. xin chao moi nguoi
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