terça-feira

ALICE DECIDIU - Ao jantar a minha decisão - Capítulo 4.1

Naquela noite iria contar-lhe o meu segredo, aquilo que eu já tinha decidido.
Eu podia decidir toda a minha vida, podia dar todos os meus passos pelo caminho por onde quisesse caminhar.
Eu podia fazer acontecer o futuro, podia construí-lo e torná-lo a minha nova realidade.
Eu podia, eu queria... eu conseguia! 
Decidi que queria estar perto dele.
Só tinha que arrumar tudo, deixar tudo inabalável.
Só tinha que endireitar tudo dentro das minhas "gavetinhas", e isso eu tinha a certeza de conseguir.
Menos com a dele, a "gavetinha" dele, que na minha cabeça teima em nunca me obedecer, abre e fecha sem que eu a consiga controlar. Parece que tem vida própria, eu eu só tenho que descobrir porquê...
Tentei perceber e descomplicar tudo. Tentei entender se seria mesmo eu quem tinha que ir ter com o futuro, enganando o tempo que nunca se deixou dominar por mim.
Nem me percebendo...
Decidi que sim, que era eu! E que se assim não fosse, o futuro nunca mais chegava e o meu tempo zangava-se  comigo.
Tentei perceber se seria eu quem teria que mover as tais montanhas ...e fui.
Decidi arriscar ser feliz! 
Eu pensava que quando a felicidade e o amor nos espreitam timidamente à janela, nós lhe deveríamos escancarar as portas...
Sem medo de nada , e com receio de tudo, mostrei a entrada de todas as minhas portas, e abri as minhas janelas de par em par.
Eu estava disposta a começar aquele ano novo, como nunca antes eu tinha conseguido. ( nem pensei no que deixava para trás, para baixo...era seguramente esse o meu único caminho, o resto podia esperar por mim...)
Conduzi de seguida, sem paragens, sem respirar.
Só queria ir outra vez, só queria lá chegar.
E lá, já começava a ser o  resto do meu "eu".
Liguei:
"Olá André, cheguei!", dizia -lhe sorrindo-lhe , sem ele me poder ver. Assim como já o tinha feito tantas e tantas vezes.~

"Já cá está?"
"Sim estou, cheguei à pouco, E olha, sabes? tenho uma coisa muito importante para te dizer". a voz saía-me firme de tão nervosa.
"Aí tens?..."
"Sim tenho.Quero que saibas o que decidi. Digo-te ao jantar, pode ser...?"
"Sim...claro. E onde queres ir jantar?". a sua voz cheia de curiosidade, senti-lhe o aroma...
"Não sei, logo se vê...posso ir buscar-te a tua casa?"
Aquela sua casa, estranha para mim num mundo que não era meu.
Agora já sabia onde morava, Vilamoura, num condomínio cheio de relva verde e fresca, com uma luz amarela  que iluminava tudo durante a noite.
Combinada a hora, desliguei.
Sentada no sofá, na sala branca em casa da Diana, sorria .... nem sabia que aquela casa me iria hospedar uns tempos...sorria pensando na decisão mais importante da minha vida ( naquela altura pensei que fosse a única decisão importante)
E foi a minha decisão!
-- mais tarde desiludi-me, ao saber que estas estrondosas decisões, não eram novidade para André---
Ia içar a vela! Eu ia, fechando os olhos outra vez... e já com nostalgia, num futuro que não conhecia, jogava às escondidas com o tempo...
Esperava o tempo passar, e o tempo nunca me obedece.O tempo passa sempre à velocidade que lhe dá na gana !E agora passava tão devagar, nunca mais chegava a hora...
Esperando, pensava em tudo, e esquecia-me de tudo aquilo que não queria lembrar.
"Mas afinal o que me queres dizer assim tão importante?"
...a curiosidade mata !... 
sorria
"Conto-te ao jantar!"
...
e no meio dum frango, e dum vinho qualquer, com um sabor que não recordo...nem me importava o sabor, porque o meu sabor estava cheio de doce, contei-lhe a minha decisão.
"Sabes André, decidi mudar a minha vida toda."
Disse-o sem o olhar , com medo da cor dos seus olhos, com medo daquele olhar que eu nunca decifrava.
"E isso... é o quê?..."
Embasbacava-se com as minhas palavras, entre o nervoso e o divertido, perguntava...
Eu tranquila de tão agitada.... Comunicava-lhe assim a minha decisão, era a minha decisão. E não queria comprometer , nem responsabilizar ninguém.
"Decidi que não vou continuar lá em cima, está na altura de fazer alguma coisa por mim, e lá em cima não estou a fazer nada... e o Vasco, disse-me que só se eu for feliz, o poderei fazer mais feliz ainda..." os olhos mareavam-se de lágrimas quando pensava no Vasco, já sentia saudades por antecipação.
"E por isso decidi que ía mudar de cidade. Mas para um sítio onde estivesse perto de alguém conhecido,para não me sentir completamente sozinha...Tinha duas hipóteses,  ou mais para o Norte...ou mais para o Sul... No Norte tenho lá a Bé, que me apoiava em tudo o que eu precisasse. Aqui , tenho a minha querida Diana, que me ampara no que eu mais precisar, aliás.... hoje já vou ficar em casa dela..."
Dizia-lhe isto tudo assim a correr,muito depressa, como quem despeja um copo de água no chão.
André olhava-me sem me fazer perguntas. Sem falar, sorria agitado na cadeira.
Algo que não percebi, e que me pareceu "susto", trespassou de repente o seu olhar, no fundo dos seus olhos alagados, algo que nem quis ver. 
---porque é que ele quase nunca me parece autêntico, quem é que lhe fez tanto mal...?perguntei-me nessa altura, sem respostas não adivinhava a dúvida que me iria perseguir como uma sombra.
Excluía-o , propositadamente, de qualquer responsabilidade na minha decisão. Era só minha, porque disso eu fazia questão .
Era assim que teria que ser, sem direito de tirara a liberdade a ninguém, muito menos ao André, que mais que tudo ansiava uma liberdade que nunca teve, vivendo preso em si mesmo...Eu sentia-me livre, e sabia que só livres conseguimos amar.
Não queria comprometer André com nada, eu sozinha aguentava tudo...eu sabia que conseguia.
Queria que André aprendesse a ser livre, e nem sabia como o ensinar. E só livre me poderia amar um dia...
" E entre estas duas opções, eu escolhi esta. Escolhi Faro." os meus olhos suplicavam por uma reacção de felicidade. E tantas vezes imploraram...mais tarde..depois...depois do tempo que se deixa passar, percebi mais tarde porque lhe era difícil olhar-me nos olhos.
--- eu entendo, também não tenho que esperar que fique a dar pulos de contente...afinal sou eu que estou a decidir. A minha decisão, minha decisão/minha responsabilidade---
"E escolhes-te Faro porquê Alice..'" perguntava-me sabendo a resposta.
"Porque não estou assim tão longe de casa, em duas horas estou lá em cima...e porque, para já, tenho o apoio da Diana que me deixa ficar lá em casa até eu arranjar um sítio... e porque aqui é mais quentinho...e..."
--- coragem, agora a verdadeira razão!---
"E... porque aqui, estou mais perto de ti André" , dizia-lhe com o meu sorriso rasgado, corava ao olhar para ele, fascinada com o seu olhar vago...
"Mas , André....esta decisão é minha,não quero que te sintas responsável por ela. Sou eu que a tomo. Na verdade ficamos mais perto um do outro, e isso pode ser muito bom...mas quero que saibas que eu venho porque quero, e a contar só comigo.Tu não tens que te preocupar comigo.E...vamos dar tempo ao tempo..."
---sempre o malvado tempo! que a mim me prega rasteiras , nas minhas correrias. Sempre que tentava chegar primeiro que o tempo, o tempo ria-se de mim---
Mais uma vez, despejei as palavras assim como uma torneira aberta no máximo. Com medo, apavorada comigo.
Pensei que tinha dito as palavras certas, eu não tinha o direito de comprometer ninguém.
Minha decisão/minha responsabilidade
"Acho que fazes bem Alice...vai-te fazer bem mudar de ares durante uns tempos..."
Não me consigo lembrara da sua expressão. Não me consigo lembrara de muito mais... naquele jantar a minha decisão.
Só me lembro que sorri, ansiando que me dissesse:
- Vem! Não tenhas medo! Eu estou aqui e vai correr tudo bem.Tu consegues,nós vamos conseguir! Eu estou aqui e podes contar comigo.Estou feliz por vires para ao pé de mim!
Não o disse. E eu construí  esta voz muda dentro de mim, com pinceladas de sonho tornei-a real no meu imaginário.
Contente por lhe ter comunicado a minha decisão, levei-o  a casa para que voltasse ao seu mundo.
A jeito de despedida, no meio dum beijo...perguntei num sussurro
"Um dia vamos ficar os dois, não vamos André?"
"Quem sabe...um dia..." respondeu e saiu do carro, e não querendo voltar-se para trás, segui em frente.
E eu acreditando que nada podia ser estranho, continuava a construir o meu caminho dentro da minha ilusão.
Arquitectava planos, tinha tanto que fazer! A partir daquele momento tudo dependia de mim.
Estava tudo nas minhas mão, tinha que correr mais que nunca!
Afinal, Janeiro estava quase aí.
Não ouvi aquele longo silêncio, nem quis reparar que André , assustado, não se virou para trás.
Segui em frente, sem ouvir o seu silêncio...
Segui em frente continuando a correr 
continuando assim...

27 comentários:

Anónimo disse...

Quero mais , quero mais =)

Unknown disse...

Obrigada :)
Boa semana*

Ana disse...

Sá agora começei a dar aqui os primeiros passos e já adorei....
bjoca

Moonlight disse...

Olá!
Estou seguindo a sua história.
Tenho lido desde o começo.Estou gostando!

Nunca conseguimos ouvir o silencio....quando ele é para ser escutado!
Nunca lê-mos nas entrelinhas do momento.

Espero por mais.

Bj cheio de luar

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

agradecendo e retribuindo o carinho da visita ... super interessante tudo isto aqui ... acompanhando a saga ... adorável ... voltando mais ...

bjux

;-)

Nuvem disse...

Obrigada pela visita.
E já me tornei fã deste e vou regressar :)
beijinhos

Sabrina disse...

Que bonito! Estou acompanhando e mal posso esperar para para o desenrolar da história.
Um abraço!

Francisco José Rito disse...

Bom dia Teresa!

A tua historia nao cansa e promete :-)

Beijos

ps: Nao te esquecas do texto para o concurso do Namorado

Unknown disse...

Uau! Já a adicionei aos meus links para não perder o fio à meada! :)

Viiii disse...

Qualquer semnelhança com nossa vida real não é mera coincidência.. Adorei a história, ainda não tive tempo de ver o começo da história, mas assim que puder o farei, e claro, voltarei mais vezes para ler a continuação. Beijos

continuando assim... disse...

Lou....vem lá mais!! lol

continuando assim... disse...

Francisco não me esqueci do texto... falta-me tempo!!! o raio do tempo....:)

bj

continuando assim... disse...

A todos vós, que por aqui andam pela primeira vez, bem vindos!! espero não vos desiludir :)

beijo

N.A. disse...

Segui o seu convite e aqui estou, parece-me uma história interessante, continuarei a lê-la

Tio do Algarve disse...

OLá! Obrigado pela visita que retribuo!
Que história...Mas não se terá virado para trás por medo???
Beijinhos

Anónimo disse...

Obrigada pela visita em meu blog...
Logo mais volto e tento acompanhar a história...
Volte sempre!

Beijos =*

Lilá(s) disse...

Obrigada pelo convite, gostei, fico á esper de mais...
Bjs

Menina do cantinho disse...

Olá!
É a 1ª vez que por aqui passo e voltarei com toda a certeza.
Vou ler o que está para trás e continuar a acompanhar o desenrolar desta história que já me fascina.

Beijinhos*

nina disse...

«Não ouvi aquele longo silêncio, nem quis reparar que André , assustado, não se virou para trás.
Segui em frente, sem ouvir o seu silêncio... Segui em frente continuando a correr continuando assim...»
Nunca percebemos os longos silêncios dos outros e continuamos a seguir em frente (ao precipício muitas vezes)...
Obrigada pela visita, mas já te andava a seguir. Continua na escrita que eu vou continuar a ler a história da Alice e de tantas Alices que andam por aí! Afinal todas temos uma Alice dentro de nós ...
Bjo

O Neto do Herculano disse...

Vamos ver quantas decisões Alice ainda têm a tomar.

Sandra disse...

RETRIBUINDO A SUA VISITA E OFERECENDO O SELO.
VENHO OFERECER O SELO DE 100 SEGUIDORES DESSE LINDO BLOG.
http://sandraandradeendy.blogspot.com/
ESPERO POR VC. LÁ. ESTE Nº SÓ POSSIVEL PORQUE VC. FAZ PARTE DELE.
CARINHOSAMENTE,
SANDRA

kilder disse...

muito bacana o blog! a história é...surpreendente!!!! bacana.

mz disse...

Vim agradecer a sua visita e conhecer ALICE.

Continuando assim...
até breve.

J Araújo disse...

Teresa, obrigado pelo comentário. A convite vim conhecer seu blog e acompanhar a história indicada por vc.

Muito interessante mesmo, gostei. Aguardo vc em http://kidureza.blogspot.com/ que na verdade é meu blog principal.

Bjss

Valéria lima disse...

Ola, gostei da história, e é isso mesmo mudanças as vezes é a melhor coisa e coragem para faze-las principalmente. Obrigada pelo convite a leitura.

BeijooO'

João Vasco SR disse...

Estou seguindo!

Estrela disse...

Olá, Tereza!
Confesso que já faz algum tempo que não posto nada, mas continuo sua fã.
Essa história da Alice é interessante.
Bjus Estelares...