segunda-feira

hide in your shell ... hoje mais que nunca!!!



E sempre, sempre que te pensava...
Via-te num caminho lilás, nessa tua concha, que disfarçavas com ondas e areia.
E só numa sombra, te via...

Quando o olhar já não queria dizer mais nada,
sentia-te preso.
Não conseguindo abrir-te, tentava com uma faca...com os dentes, tentava
partir a concha.
Essa concha, que mesmo de sorriso aberto, deixavas tão fechada

não podias
não querias

.... Nem eu sabia porque a queria abrir...

Não te conhecendo por não deixares,
ia descobrindo o que conseguia ver, para lá desse teu desfocado caminho.

Tentando perceber, acreditando que agora já estarias mais livre, da dura casca de concha, dessa que te encerrava.
..........................................

Talvez hoje não tivesse feito assim...
Como fiz, e como tu previas que faria.
Talvez hoje, eu te deixasse tranquilamente fechado na tua concha, igual aquelas simples conchas, que eu apanhava sozinha na praia....
Talvez hoje, eu tivesse deixado que seguisses esse teu caminho lilás...

e não te encontrava…

Talvez hoje, eu tivesse percebido que a liberdade que não sabias usar ..era mais do que ar,
era mais do que luz,

era mais do que tudo o que se pode ter para viver.

Talvez hoje,  eu não tivesse deixado que deitasses as "coisas" fora…
tuas "coisas"
nossas "coisas"

teria percebido que deitavas fora tudo o que não querias,

materializado tudo num acto pensado, ou impensado,  que mais tarde nada seria...

Esperando assim que dentro da tua concha ficasses mais tranquilo..
talvez hoje,  eu tivesse percebido que só querias voar.
Talvez hoje,  eu te tivesse deixado ser quem querias ser,
mesmo não sabendo o que serias...

.....................

"não te preocupes.... Minha querida...não vais ter nunca mais de voltar lá abaixo!"
"Eu trato de tudo, eu faço a mudança toda e trago as "coisas" para cima".
Passava as suas mãos na minha cara...

eu ouvia sem conseguir perceber o que deveria fazer.
não querendo voltar lá...naquela casa, onde as gaivotas me apareciam todas as noite na minha varanda, para sossegar a solidão
não querendo voltar aquela imensa casa....
olhava-o... e apática dizia que sim...

mesmo sabendo como se sentiria lá sozinho

mesmo sabendo o que iria sofrer ao acabar com tudo o que era lá...
mesmo sabendo que desejava...voltar a viver,  uma outra vida qualquer
mesmo sabendo que não sabia,  qual a vida que queria viver

deixei que fosse sozinho...para arrumar tudo
para se arrumar
para abrir a sua concha
mesmo desesperando de tanto desesperar
estaria melhor

" Sim...está bem...vai sim... eu não sou capaz de lá voltar..."
dizia-lhe ...afastando tudo o que me trazia aquela imensa varanda,
onde a minha Lua Amarela,  se calhar ainda por lá espreitava

foi

decidido
demasiado decidido , demasiado confiante nem sei de quê.
Quanto  eu sabia o que ele precisava de estar só...

foi e arrumou tudo como soube,  na altura
arrumou tudo como lhe fez sentido.
Abrindo a sua concha só fez o que lá de dentro ,de dentro dessa concha ... lhe disseram para fazer....

eu esperava que voltasse sem dia nem hora para voltar,
mais uma vez continuava assim… à espera…
desta vez, com esperança de que tudo iria começar de novo..
No novo ano ...nesse ano novo

Não desfazendo a teia..não desfazendo o seu novelo...não entrando na sua concha
na concha onde se escondia
nem espreitei...
esperei sem perguntar....


chegou dias depois...
demasiados dias depois...

" Já está a mudança feita!" disse-me sorrindo
"Agora vamos começar tudo de novo! "

dizia eufórico...e inseguro

"Sim... e onde estão as nossas coisas...?"
perguntava, não adivinhando a resposta

"As "coisas" estão todas no lixo...! deixei tudo lá em baixo,  no lixo....sabes,  aqueles contentores que estavam ao pé de casa? ...ficaram cheios de sacos pretos de lixo...do nosso lixo..."

"Mas ...deitas-te tudo fora ?"
Eu sorria, nervosa
baralhada, sem saber se deveria, ou não , ficar contente.

"Sim meu amor...foi tudo para o lixo...são só "coisas" não vamos precisar daquilo para nada! Andamos a vida toda, agarrados a "coisas"..."

Sorria-me e olhava-me com os seus olhos, sem cor...

Sorri...de lágrimas a saltar, dizia-lhe que sim...

São só "coisas" vamos começar tudo de novo!

Agarrada com força, a tudo o que eu pensei… que “tudo” quisesse dizer…
Esqueci as "coisas".

Afinal, nós éramos a vida,
as "coisas" não....

E....sem os nossos livros...as nossas músicas...as nossas mobílias....íamos criar outros quereres
...íamos ter outras "coisas".

Feliz...senti-me feliz,
talvez ele tivesse deitado fora todo sofrimento,
não reparei que se fechava mais uma vez na sua concha

Aquela….

que eu não abria…

25 de Jan de 2009  … in “Continuando assim…” Teresa Queiroz


9 comentários:

Teté disse...

Ui, nunca sorriria feliz se me deitassem as minhas "tralhas" fora! Podem não ser grande coisa, mas são minhas. E a falta de respeito de as deitar fora, sem o meu consentimento expresso, parece-me atroz...

Beijoca!

Graça Pereira disse...

Há conchas que nunca se abrem...o mar pode afagá-las, a espuma dar-lhe beijos...que elas fecham-se ainda mais...talvez a natureza lhes tenha dado uma carapaça mais forte que ás outras ou talvez porque não sabem mostrar o que sentem, se defendam dessa forma...Nunca o saberemos!
Um beijo
Graça

continuando assim... disse...

Teté ...heheheh , pois eu também pensei que não sorriria feliz..:) bj

Girl in the Clouds disse...

Está lindo!!
Supertramp, que bela recordação!!

Sonhadoremfulltime disse...

Olá teresa,
gostei do texto, mas estou parco em palavras.
A minha alma foi tingida de negro


Um beijo

continuando assim... disse...

Spnhador... repara bem no negro da tua alma...se calhar as cores podem sobresair mais !! um beijo meu

continuando assim... disse...

Girl :) muito boa recordação :) :) sim senhora!! beijo

continuando assim... disse...

Graça ... o pior é que são essas conchas que tanto queremos guardar :) beijo

Luz disse...

Teresa,
Talvez hoje..., não tivesse dito..., não tivesse isto ou, aquilo...
Há conchas que nunca se abrem, não se deixam abrir e, como dizes são essas que queremos guardar, mas algo acontece e não ficam para que as possamos guardar, não sabem o quanto têm de valor para nós.

Gostei do teu texto, mas confesso, os últimos tempos, a última semana, os últimos dias afogaram-me a alma..., fecharam-me como essas conchas que não se abrem..., e, neste momento depois de ler o que escreveste só consigo sentir as lágrimas...

Bjo para ti.