terça-feira

uma história tão banal.... STRIPPER-POLE


STRIPPER-POLE

Luísa saiu de casa do Hugo, já passada a hora de jantar, tinham estado horas e horas, a rever documentos e listagens, não lhe apetecia lá ficar e repartir um frango mal assado, mais uma vez.

Sentou-se no carro, olhou e sentiu um cheiro que lhe desagradou, cheirava a tabaco de tantos cigarros fumados ali. No chão alguns papéis, folhas, pauzinhos, bocados de terra, jornais oferecidos nos sinais de trânsito já meio desfeitos e outros objectos não identificados. Luísa cuidava do carro como cuidava da alma.
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Olhou o vidro meio manchado e decidiu que não iria aquecer outra vez uma refeição congelada no micro ondas lá de casa.
Olhou para o telemóvel deitado em cima do banco, para quem poderia ligar? Quem poderia estar assim, tal como ela sem vontade de comida que não se come?
Sentado dentro dum carro infecto…?
Passou em revista os contactos que tinha gravado, muitos deles já não conseguia identificar, olhou mais uma vez….
O Filipe!
O que estaria a fazer o Filipe? Já não estava com ele desde o Verão passado ….

-Olá!... Como estás tu Filipe? Já não falamos, há tanto tempo….

Sorria enquanto falava lembrando o barulho do mar, lembrando o amanhecer, daquele dia, naquele verão.

-Olá Luísa! Estava longe de te ouvir! Onde estás?
-Estou aqui perto de ti, estou a sair de Carnaxide, estive com um colega até agora a rever listagens … e tu? …. Onde andas?
-Em Cascais, estou dentro do carro, à porta de casa dum amigo…vamos jantar por aí os dois… porque não vens também…?

Luísa soltou uma gargalhada, que Filipe não percebeu, afinal não estava sozinha no clube dos solitários de alma mal cuidada, sentados sozinhos dentro de carros infectos!

-E vão onde …? Eu ainda demoro um bocadinho a chegar …
-vamos aos franguinhos em Cascais, sabes onde é?
-Sim, sei, está bem então vou lá ter …

Conduziu o carro sem pressa de ir, quem seria o amigo do Filipe?
Filipe só se ria enquanto falava com ela ao telefone … bom, melhor que lasanha do hipermercado seria certamente, os franguinhos de Cascais.

O Filipe, que pelo que lhe pareceu estava igual a si próprio, esperava que o amigo não fosse de muita cerimónia, estava cansada e não lhe apetecia fazer “sala”, mas sim umas gargalhadas parvas, de coisas que nada queriam dizer…veremos.

-Cheguei a Cascais! Estacionei mesmo aqui ao cimo da rua, já te vejo!

Luísa entrou num restaurante, cheio de luz, demasiada luz.
O chão estava escorregadio, devia ser da gordura dos frangos transformada em fumo e que sem se ver, caia no chão.
Olhou em volta, numa mesa ao canto, um grupo de alemães com um monte de cervejas, umas já bebidas outras a meio… sem saber porquê, fingiu que não os estava a ver, aos dois, o Filipe de frente o amigo de costas para ela.
Sorrio quando decidiu olhar para o Filipe que já se levantava para as boas vindas.
Sentou-se com à vontade na mesa deles, começaram as apresentações, sempre iguais, Luísa reparou que já estavam no fim da refeição…
Pediu o que estavam a beber e qualquer coisa para ir matando a fome.

Olhou para César, disfarçando reparava nos pormenores, careca, uma pequena pulseira de couro num dos pulsos, o que lhe conferia desde logo, uma juventude de couros, tranças, missangas e afins… óculos leves, um sorriso tímido, bebia rapidamente, pareceu-lhe inquieto.
Luísa para esconder tudo em que reparava, falava depressa e contava coisas sem mito interesse, imediatamente desviou a atenção que deveria dar a Filipe.
Aquela pulseira juntamente com aquele ar de alguém que está só, era mágica, reparava assim, em todos os gestos de César.
Terminado o jantar, certamente não se ficaria por ali.

-Onde vamos agora? Perguntava Filipe…
-A qualquer lado quentinho! Porque estou a morrer de frio!
Luísa queria continuar a observar César…

Escolheram uma mesa na esplanada dum bar conhecido e no centro de Cascais.
Estava frio, as cadeiras molhadas, mas não se pode beber sem fumar…por isso valia o sacrifício, e todos fumavam desalmadamente, cada um com os seus misteriosos motivos.

César contou um pouco da sua recente história, igual a tantas, um divórcio onde foi trocado por um coxo, meio louco, mudança de casa para Cascais, mudança de vida…

Filipe ia tentando captar a atenção de Luísa, sem sucesso.

Riam-se do ridículo de toda a história. Mas no fundo dos lhos de César, Luísa via um sinal de grande desilusão.
Ingredientes perfeitos para que o interesse em César, aumentasse cada vez mais dentro da sua razão.
Luísa era assim, vivia num, desassossego, queria ter alma e viver de repente, queria tratar de outras alma que não a dela, essa, ela não sabia cuidar. Já de si era confusa essa forma de estar, e era sempre atraída pelo que não decifrava com facilidade.

De pensamentos sempre demasiado rápidos, encontrou grandes semelhanças entro o Luís e o César, e como sempre acontece quando se sofre de despeito, era perfeito.

O “substituto” ideal! Brrr que mal lhe soou, dentro da sua cabeça.
César parecido com Luís, em tanta coisa.
Mas o Luís, seria sempre o Luís mesmo em parte incerta … insubstituível….ou não…

César e Luísa combinaram uma ida ao cinema já na próxima segunda feira
Combinaram, mas ao cinema nunca foram ….
Filipe falava e ninguém o ouvia.

Já noite alta, andavam os três pelas ruas de Cascais, dizendo coisas à toa rindo por todo e por nada.


Luísa e César, encontraram-se no fim-de-semana seguinte.
Em cascais, num bar de ingleses.

César contou-lhe que tinha uma espécie de namorada, Luísa viu todas as expectativas desfeitas no gelo da bebida, e pensou que o romance que nunca começava, terminaria ali.

Sempre com um ar despreocupado encorajou César a contar a sua história, era boa ouvinte, isso, era…
Separação recente, já sabia… namorada assim tão rapidamente, normal nos homens, pensou…
Tudo tranquilo, até saber que a espécie de namorada, era Stripper…. Luísa não tinha nada contra Stripper s, mas, pareceu-lhe tudo tão bizarro…

Luísa não iria “competir” com uma Stripper , que chegou do Brasil, com um curso de Psicologia por terminar, e que ganhava dinheiro dançando semi-nua num varão, para mandar o ganho para a família. Luísa nunca tinha aprendido a dançar no varão….

Que história tão vulgar, mas que a encantava, só pelo insólito de sem saber como, começar ela própria a estar metida naquele meio. Fascinante e bizarro.

Jantou durante semanas com César, falavam até de madrugada.
Contavam tudo um ao outro, passavam horas de mãos dadas, abraçavam-se com força, beijavam-se na despedida, as conversas eram intermináveis…. Até há hora marcada pela Stripper.
Hora em que terminava o show.
Hora em que César tinha que seguir caminho em excesso de velocidade, só para ficar a falar com Luísa, até ao último minuto.

César, iria fazer uma viagem com a Stripper ao Brasil, iam visitar a família dela , segundo ele essas férias estavam a ser a razão da vida dele, precisava delas para seguir vivo.

Não pelo gosto de viajar com a Stripper , que segundo horas de conversa, estava claro que a Stripper nada tinha a ver com César, e não era mais que uma companhia sexual, ou algo assim..

Mas sim, pela oportunidade que César teria de fazer uma viagem grande, e conhecer o Brasil de lés a lés. Pois a espécie de namorada, ao que parecia, tinha família por todo o lado naquele imenso Brasil.
César dizia tantas vezes, e de várias formas, a Luísa, que depois desse mês e meio de férias, tudo mudaria na sua vida. Tudo mudaria na vida deles.

Sem saber que o estava a fazer, ou sabendo, pedia a Luísa para esperar por ele… porque ele iria voltar, e voltaria novo.
Um César novo, aquele que sempre foi e que agora não era.

Dizia-lhe que nunca tinha sentido por ninguém o que estava a sentir por Luísa, e não sabia identificar o que era, isso assustava-o e prendia-o a ela … dizia-lhe que tinha medo de lhe abrir a sua “caixa de pandora”, dizia-lhe que precisava dela, pedia a Luísa para esperar pelo fim do ano.
Luísa acreditando, e sentindo-se confusa, dizia a César que sim, que esperava pelo ano que aí vinha.
Esperaria pelo fim das férias de César. Não sabia pelo que esperava, mas ira esperar.

Esperava por um César novo, quando era aquele César que a começava a apaixonar Luísa nunca se entendia.

Numa estação se serviço, uma das noites que César ia a correr buscar a sua Stripper brasileira, comprou tabaco para os dois, como sempre fazia.

Aproximou-se devagar, da janela aberta do carro de Luísa, beijou-a como nunca a tinha beijado antes, e quase sussurrando disse-lhe:

- Não me esqueças nunca…Luísa, eu volto, e volto outro…. Espera até ao ano novo, que já está a chegar - Sorria-lhe, e os seus olhos espelhavam o pedido…

Depois partiu no seu jipe, em excesso de velocidade, ao encontro da sua Stripper

Luísa, ficou parada a olhar o lixo espalhado dentro do carro, e resolveu esperar.

Antes da partida de César, para a sua viagem alucinante, Luísa ofereceu-lhe uma caixa de cartão cheia de beijos lá dentro, e fez com que César lhe prometesse, que todos os dias, tiraria um beijo … só para ele ….

César mandava mensagens do Brasil, dizendo que já tinha tirado o seu beijo do dia ….
Luísa esperava, esperando sem saber porquê.

Passaram os meses, e as férias …

César voltou.

Já casado com a Stripper brasileira, que passou de repente a ter nome, mas do qual, Luísa nunca se consegue lembrar.




15 comentários:

Francisco Vieira disse...

Muito bom!!! Estas em destaque la no tasco hoje, na barra lateral.
Boa tarde e um beijo

continuando assim... disse...

obrigada Francisco :)

S* disse...

Hum... historia interessante e charmosa.

Graça Pereira disse...

Ás vezes, fazem-se promessas em vão... e espera-se por alguem, porque é sempre bom estar á espera de "alguém"... Gostei, Teresa!
Um beijo.
Graça

Teté disse...

Já tinha lido esta história em tempos, suponho que num outro blog teu. Gostei muito, especialmente por ser tão real e banal, nos dias que correm! Cada um só acredita naquilo que quer acreditar...

Jinhos!

Marilisa Peeters disse...

Oi Amiga!! Tem presente prá ti lá no meu blog!!
bjs

Anónimo disse...

Tenho de voltar para ler com atenção.
O "post" é compridíssimo e eu tenho de ira à janta...



Capitão Merda

Anónimo disse...

Não comentei com o "registo", pois tive dificuldade na mudança de conta...


CM

Sofá Amarelo disse...

Simbolicamente - e não só - esta situação está a acontecer cada vez mais frequentemente ... e isso vai alterar a sociedade portuguesa dentro de poucos anos...

Sonhadoremfulltime disse...

Um texto repleto de ingredientes, uns suaves outros mais picantes. Mas sem perceber muito de culinária, o menu surpreendeu-me pela positiva.
Gostei da história :)

Bjo

Luz disse...

Uma história como tantas que hoje e desde alguns anos temos conhecimento. Os momentos envolventes destas histórias são aqueles que já sabemos.
E como sempre a espera por alguém que promete, promete, mas nunca vem..., essa espera não vale a pena e, só quem for muito ingénuo acredita nestas esperas e noutras :) Conheço, sei, no entanto, há sempre quem aprecie estas histórias por isso mesmo, porque tem picante, mas depois não passa disso, não concretiza ;)

Gostei desta história, mas toca a fugir de algo assim :):)

Bjo

continuando assim... disse...

sim Téte , já a tinha escrito num outro blog meu , que já não existe :)

continuando assim... disse...

obrigada sonhador ...é só mesmo uma historieta ;:
)

continuando assim... disse...

Luz, uma história que morre sem começo :)

Valquíria Vasconcelos disse...

Perfeito! Lindo!