quarta-feira

Acabou de pensar



refugiava-se na sua arte - de olhos ardentes - lacrimejava cansaço -  pensou que sentando-se só iria ver meias cores - de tudo o que lhe parecesse colorido - de quando em vez sentia-se assim, descolorada e lacrimejante de cansaços revividos

e sem cor - pensou que o odor também nunca mais lhe chegaria - odor de relva fresca - de heras escondidas - de madeira envelhecida.

refugiava-se a céu aberto - nem se sentava - nem se lembrava… já quase não se queria

esquecia-se - por querer esquecer - obrigava-se a não lacrimejar e cansava-se - concentrava-se naquela arte que não sabia ter
mas tentava - tentava sempre que o aperto chegava- tentava sempre que os seus dedos lhe fervilhavam. 
inspirada em tanto - não fazia quase nada

acabava (agora) de pensar - cerrava o pensamento - cerrava os olhos - lacrimejava e descolorava-se

finalmente sentou-se e sentiu a madeira áspera - o vento fresco que (só) lhe pareceu uma rajada de nada

sentou-se de pernas cruzadas - desajeitada - pensou que já nem se sabia sentar por aí

olhou e viu cor num canto qualquer - não sabia por onde ir

calmamente
deixou-se ficar.

acabou de pensar.

TMQueiroz
Foto: Teresa Amaro


7 comentários:

Dinho disse...

Alguma hora todos precisamos sentar e olhar as cores. O seu blog é muito bom. Você tem um livro? Que legal rs
Bom final de semana

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Olá

É sempre com gosto que por aqui passo... e as espectativas não foram defraudadas, o titulo e o banco vazio definem quase tudo, depois as palavras, as belas e arrumadas palavras que tal como a vida, às vezes parecem nem fazer sentido, mas, fazem imenso sentido.

Adorei muitos parabéns

Nilson Barcelli disse...

Magnífico texto. Gostei imenso, querida amiga.
Beijo, Teresa.

Nilson Barcelli disse...

Nem sempre pensar é fácil...
Teresa, bom resto de semana.
Beijinhos.

PS: já comentei noutra altura, mas o comentário não apareceu...

Darlan M Cunha disse...

THE HOURS, THE GLASSES
(sobre a música The Hours, de Phillip Glass)


As horas do vidro comportam medos inenarráveis, delicada
questão, mãos de luva, a educação pela pedrada, o fato
é que o vidro ressente-se menos
de um gotejar de chuva célere, fustigando-o também
o vento, do que um confronto leal com o baque da pedra na qual escrito esteja
a palavra fatal. Eis o suor do vidro, seu temor de que, por delicado, a casa
caia, estilhaços seus no beco da amargura – um que outro vestígio
de nome, de sangue. Assim o acervo do vidro.
*****

Um abraço. Sempre algo bom há nas suas páginas.

Darlan

Anónimo disse...

Este foi um interessante post Free iPhone 5 iPhone livre 5

Elisandra Eccher de Andrade disse...

Oi Teresa,
Fiz a análise do conto e do prefácio do livro Corda Bamba, se quiser conferir este é o link: http://amagiareal.blogspot.com.br/2013/04/corda-bamba-2-edicao.html

Abraço Elis!!!