sábado

ALICE N]AO SOUBE LER ; Ali eu li outra coisa... cap[itulo 3.1

“ Então porque não vens cá abaixo?”
“Olha que vou mesmo!”
“Vem… o que é que estás aí a fazer?”
Fim de tarde, arrumei tudo. 
Fiz um saco à pressa , meia dúzias de coisas à toa, vou mesmo!
-- mas onde é que eu vou ficar?
Daqui ao Algarve são três horas de viagem, chego lá antes da meia-noite.
Vou!
sms: Estou a ir…
Há quanto tempo eu não ia assim, como quem vai a caminho do resto da vida.
O peito cheio de ar comprimido. Uf! Daquele que não sai, daquele que não dá a volta ao respirar.
Lá fui no meu carro, o meu “verdinho”. Eu acelerava e acelerava cada vez mais, mas ele não conseguia acompanhar a urgência do meu coração.
Pressa! Tenho pressa!
Tenho pressa de lá ir ver como é…
Anoitecia tarde nas horas, no caminho olhava quase sem ver a luz. O vermelho, o rosa, o amarelo fogo, do Sol que se escondia de mim. As cores empurravam-me e eu não as sentia.
Comecei a ver a Lua amarela, a minha Lua amarela. Nessa altura ela ainda não me conhecia, ainda não éramos amigas inseparáveis.
Nessa altura eu não reparava na Lua. Nem nos dizeres, estampados nas indicações do caminho:
Algarve 280 Kms.
Aí, eu li…Caminho certo!
Escondida por detrás daquelas letras negras, eu não li a solidão que espreitava numa cor esbatida. A solidão que já se baloiçava no seu buraco branco.
Não tinha medo. Tinha cócegas no estômago, muitas cócegas.
Que saudades desse sentir. E agora, como vai ser?
Bom… em casa do André não vou poder ficar ( parece que a Lia, segundo o que ele me disse, era para sair este fim de semana lá de casa…mas não saiu…é certo que ainda não percebi bem aquela história da sua separação, mais uma razão para ir…não faço muitas perguntas, não sei se tenho direito, nem sei mesmo se quero saber…).
Ainda vivem os dois, à espera de vender a casa….
Hummm, sem medo! Vai em frente! Para baixo, é o caminho!
Calor, janelas abertas, no rádio tocava uma música que eu nem percebia, e a partir dessa altura a música deixou de estar presente na minha vida…
E não percebendo que a música, sempre me fez tanta falta, não sabia que não ia dar por ela.
sms: Onde estás Alice?
sms: Ainda estou a meio do caminho.
sms. Dá-lhe com força! Acelera!
sms: O acelerador não vai mais para baixo,,,,
Não pensava em mais nada. Não pensava em nada que não me fizesse sentir bem, só pensava como iria ser.
Só pensava no caminho certo!
Só pensava que estava viva!
Só pensava que aquilo era amor!
Que me tinha calhado a mim…
Nunca pensei que não tinha lido a palavra certa
Corri! Acelerei!
Sms: quando acabares a auto estrada, viras para o lado direito e eu estou aí à tua espera.. faz-me sinais de luzes quando me vires.
E agora…? E se não o vejo…? Vejo certamente.
Final da auto estrada, sem parar, sem comer, sem beber, sem nada..,
Hipnotizada por aquilo que ainda não sabia, e pela certeza que merecia aquilo que pensava vir a viver.
Sim. Eu merecia mesmo!
Estava na altura de pensar em mim, essas coisas que todos pensamos e nunca fazemos.
Pensava, e não imaginava que a partir dali, tal como a minha música se iria calar, eu deixaria de pensar em mim, sem mesmo me aperceber que acontecia.
Final da auto-estrada, agora viro à direita e ando devagarinho…
sms: Cheguei André!
sms:Estás a ver-me Alice? Eu vou fazer sinais de luzes.
sms:OK. Já vou ter contigo.
Tremeliques, aquele sorriso que nunca se desfaz…
Ai..! estou bem assim?? …pensava quase em pânico de não conseguir pensar.
Lembro-me da roupa, lembro-me sempre da roupa…
Umas calças de linho branco, blusa vermelha sem mangas às bolinhas brancas, e umas sandálias brancas…casaco vermelho, de linho. Era Verão.
Paro o carro, ele atrás de mim.
Sai do carro e aproxima-se, um sorriso lindo, uns olhos que nem sei… e uma voz cantada, um som que eu não sabia que existia.
Beija-me. O sabor do beijo ainda o lembro, um beijo onde se vivem vidas inteiras, um beijo onde não racionalizamos, o nosso beijo foi assim…
Eu coro. Eu não sei o que dizer.
Enervo-me. Nervosa, falo muito depressa, digo muitas coisas, rio apavorada com o silêncio.
-Chegaste depressa, o “verdinho” anda bem. Seguiste as indicações na auto-estrada?
-Segui… (não reparei bem no que lá dizia, não vi a solidão por detrás das letras negras…) Estou aqui, então vim pelo caminho certo!
Risos, gargalhadas, olhares, sorrisos…as nossas mãos juntas, transpiradas, lindas…unas!
E ainda sentindo o beijo, absorvendo o odor até à sua última partícula no ar…
Eu continuava assim…
Mãos quentes e mãos frias, misturadas numa única transpiração.
-Vamos comer qualquer coisa? Eu ainda não jantei. Depois seguimos para o hotel, há um ali para cima em Albufeira, deve ter quartos. Quantos dias vais ficar  Alice?
Estranha a pergunta…na altura não reparei…
Como em nada, eu não reparava em nada. Eu fingia sempre não repara em nada, porque esse nada, poderia arruinar a perfeição imaginada que eu queria sentir como real.
-Eu pensei em ficar três noites, na segunda-feira é feriado…
-Que bom…então, vamos comer qualquer coisa.
Comemos coisas de “plástico”, aquela hora era o que havia em qualquer esplanada algarvia. Cheia de turistas corados pelo Sol e embriagados pelo calor, e o calor era muito.
Não consigo dizer como eram as pessoas que nos rodeavam, só porque não via nada nem ninguém. Só ouvia a sua voz encantada, suave como algodão em rama, forte como aço polido, perguntava-me perguntas simples, envoltas em mistério.
O meu mágico, homem alado dos meus sonhos, era perfeito. Demasiado perfeito para ser real, por isso o imaginava…
Falava-me, contando sem contar, perguntando como quem não quer saber.
E eu ouvia, ouvia quase sem entender, quase sem querer…e ainda hoje me lembro de todos os diálogos…
Cada vez mais me convencia que tinha ido na direcção certa, só porque nunca ninguém me tinha falado com tanta suavidade, nunca ninguém me tinha comandado só com o som da sua misteriosa voz.
Acabamos de jantar e fomos para o hotel, que ficava por cima do mar, rodeado por um enorme jardim. Cheio de luzes, ali tudo parecia saído dum conto inocente.
Os carros todos parqueados em frente ao hotel. Estacionamos.
-Vamos fazer o chek-in? Dá cá o cartão que eu vou lá.
Dizia-me baixinho…
-Tens o teu cartão de crédito Alice? é que aqui vai ser preciso, e eu não tenho…aliás , eu não tenho dinheiro.
Sorriso frágil e meio envergonhado…
Que bom, alguém fazia alguma coisa por mim, pensei… embebida na suave protecção que acreditei sentir…que me era estranha e perigosamente agradável.
-Está bem, vamos…toma.
Estendi-lhe o cartão. Entramos, ainda guardo o bilhete preenchido na recepção do hotel, nome data…morada…com tudo ou quase nada.
E foi só nessa altura que fiquei a saber o seu primeiro nome… sempre foi tratada pelo segundo nome…André. Olhei para o apelido…
De repente um leve susto: “ Alice, tu não conheces esta pessoa!”, pensei e afugentei de imediato o desconfortável pensamento. Pensamentos incómodos, que me apareciam assim de repente e insistiam em estragar o meu imaginário. Não queria!---- conheces sim…é a pessoa que te vai fazer feliz o resto da tua vida---
Na manhã seguinte saiu cedo. Não esperava que André saísse assim…
-Alice vou ter que ir porque estão á minha espera… tenho que ajudar a carregar umas caixas com revistas…
Umas caixas?! Onde?!
-Mas assim que estiver despachado ligo-te, eu não demoro…
Espreguicei-me lentamente, ainda dentro da cama. 
O cheiro a quarto de hotel nauseou-me, este cheiro a hotel…odor asséptico, impessoal, recordou-me os hotéis por onde passei quando tinha que ir periodicamente à Madeira e aos Açores, em trabalho. 
Este cheiro enjoava-me sempre.
Abri a janela que dava para a varanda, olhei a piscina com uma água azul-turquesa, transparente. As cadeiras brancas todas alinhadas à sua volta, silêncio, ainda dormiam todos naquele hotel. Tudo deserto… devia ser muito cedo, nem vi as horas. Zangava-me com o tempo.
---vou esperar que me telefone…não deve demorar…vou sair , tomar o pequeno almoço , andar por aí. Há anos que não venho a esta terra, nunca gostei muito do Algarve…---
Com os pingos da água em cima de mim, debaixo dum chuveiro forte, comecei a ter pressa outra vez, despacha-te! Se calhar…não tarda nada ele está a ligar.
Vesti-me depressa, comi depressa, saí à pressa do hotel com a esperança de voltar à noite, já não sozinha… e nessa reconfortante expectativa, sorri.
Saí para o Sol de Verão que brilhava na rua.
No vidro do “verdinho”, um cartão… “um beijinho!”
Sorri novamente, ainda o mesmo sorriso agarrado à cara. Guardei o cartão, e fui atarantada para o meu passeio sem destino. Não sabia onde ir.
Sem André, eu já ficava meio perdida, e estranhamente já me sentia esquecida e antevi a solidão que me espreitou e que eu recusava perceber.
Andei por caminhos que mal conhecia, não reparava nas indicações dos caminhos, não lia o que lá estava escrito, só porque não me queria interessar, só porque tinha medo do que via…
Hora do almoço, o telefone não toca.
Já sei! Vou ligar à Diana, ela vive aqui, e não a vejo desde a última reunião que tivemos em Lisboa. Vou saber por onde anda…deve estar por aqui num qualquer Centro de Saúde. Liguei.
- Diana, estou cá em baixo. Sim! No Algarve,,,onde andas? Vou ter contigo e almoçamos… nem sabes o que me está a acontecer…estou tão felisz que nem acredito! Conto-te tudo ao almoço.
Gargalhadas cúmplices de amigas confidentes. Contei-lhe tudo…ou quase tudo…
Uma história de mágicos , fadas e homens alados…
Ao almoço, esperava o telefone tocar , mas…nada… mais uma hora.
Nada…
-Olha lá Alice, o André já não devia ter ligado?
-Sim…mas se calhar ainda não conseguiu, por qualquer motivo…
-Não conseguiu?! Mas estás à horas à espera…quando se quer arranja-se sempre um minuto para ligar… não me digas que não conseguiu?
-Já liga. --- respondi seca.
Eu disfarçava o tormento que sentia começar a sentir, uma espécie de angústia que a partir dai sempre me acompanhou.
Continuámos a conversar, havia anos de escrita para por em dia!
Fim de tarde, o telemóvel estático. Estranho!
Esperei mais um bocadinho, e já sabia que esperaria os bocadinhos todos…
Despedi-me da Diana com a promessa de a voltar a ver muito em breve, afinal o Algarve passaria a ser a minha segunda casa. Gargalhadas felizes e nervosas, amigas , beijos, desejos de que tudo corra bem…
´-Tu mereces Alice, vais ver que tudo vai ser como imaginas.
Em segredo eu também achava que sim, que merecia aquilo que imaginava.
Corro para o hotel num sopro e já assustada.
Que terá acontecido?
Não espero mais, encho-me duma coragem que não julgava ter e ligo.
Atende:
-desculpa não ter ligado Alice, é que nem me posso mexer!! Dei um jeito ás costas, estou em casa deitado no sofá, nem podia chegar ao telemóvel…Estou só à espera que chegue alguém a casa para ir comigo ao posto de saúde.
alguém?! Mas quem?! A mulher /ex-mulher?!
- Desculpa mas não posso ir ter contigo Alice …desculpa.
E logo a seguir , vieram as primeiras lágrimas de desilusão.
Passei mais dois dias sem sair do quarto, esperava…André não veio…
Comecei a habituar-me a esperar, sem saber nunca o que iria acontecer. Sem perguntar nada, com medo de respostas, só esperava.
Continuei assim, esperando…
Mais duas noites, e uma vez mais me senti sozinha , perdida numa terra que não era a minha.
as dores nas costas não o deixavam vir… convencia-me .
Se eu tivesse tomado atenção, ás indicações do caminho…se eu tivesse lido por trás das letras negras…se eu tivesse visto o buraco branco a servir de baloiço à solidão…
Voltei para cima, para casa. 
Voltei com a boca amarga e com o coração escangalhado. A solidão ria-se de mim…eu não lhe ligava, andava de baloiço, atirava os pés para o ar…
Compreendi-o, até achei que era verdade, podia ser…
Só tinha que saber esperar, e esperei.
E ainda hoje, mesmo já não querendo continuar assim…
Espero.

37 comentários:

Anónimo disse...

Quantas e quantas Alices haverão por aí? adorei a história. Obrigado =)

continuando assim... disse...

[e verdade Lou , mas isto [e s[o o in[icio da hist[oria...>(
bj

DREAMS disse...

ola Teresa

parabens, estou a gostar...vou continuar por aqui a espera do desenrolar da historia :-)

beijocas e bom fim de semana
Ana

DREAMS disse...

ola Teresa

parabens, estou a gostar...vou continuar por aqui a espera do desenrolar da historia :-)

beijocas e bom fim de semana
Ana

Sonia Schmorantz disse...

O mundo e suas alices...linda história!
beijo, ótimo fim de semana

Há.dias.assim disse...

Essa é a espera que te levará à loucura e à ausência de viver. Com contornos diferentes tb esperei até me destruir. Hoje procuro reconstruir-me, mas quando algo dentro de nós se quebra, nunca mais somos as mesmas.
Deixa de esperar.

RosanAzul disse...

Olá Teresa...
Aceitei teu convite!
Agora já estou te seguindo ok!
parabéns pelo blog, gostei da história!
Beijos e bom fim de semana!
Ro

Alix disse...

Cheguei aqui pelo blog da Maria.
Chamou-me a atenção pela história da Alice, vim espreitar.

Gostei, OTÀRIAS as Alices.


Beijo

Bárbara disse...

uma boa história. *

Moranga disse...

Convite aceite!!! ;)

Bj e boas vibrações.

Unknown disse...

Olá amiga

Vim conhecer seu espaço e agradecer seu convite,visita e comentário, obrigada.

Beijo

Anónimo disse...

eu gostei de teus esppaços ...
não parei para ler agora, pela pressa ..
mas voltarei ...
bj

✿ Regiane ✿ disse...

Ótima história, parabéns!!!!
Tenhas um maravilhoso domingo.

karine c. disse...

Olá convite super aceito.
beijo

José disse...

convite aceite...
parabens pelo blogue.
ta muito giro.
escreves mto bem...

bj

bom fim de semana p ti tambem...

Sputnick disse...

Vou passar por aqui mais vezes. Gostei.

momo disse...

Que bonito que hyas aparecido en este momento , cuando estoy a punto de publicar una entrada con fotos de lisboa, en mi orilla veo que aún conspira con cosas bonitas el universo .
Te leeré despacito y gracias por aparecer por mi orilla

Teresa Fidalgo disse...

Vim para agradecer o convite e tornar-me seguidora.
Gostei do que li. Voltarei.

Bom fim de semana!

Lídia disse...

... e vim visitar-te de forma curiosa. A espera rói o coração, devagar. Valerá a pena?

S* disse...

Esperar pode ser uma tormenta. Mas outras vezes sabe bem...

Vitor disse...

...E vou lendo...e tu vai escrevendo...eu vou aguardando!

Bj*

Lau Milesi disse...

Olá!!! Muito obrigada por seu convite e por sua visita .Seja bem-vinda. Adorei seu "cantinho" e fiquei por aqui.

Parabéns a todas as Alices pelo Dia Internacional da Mulher!!!

Um beijo

Ade disse...

está muito boa :D
beijinho

Ana Cristina Cattete Quevedo disse...

Gostei do teu olhar sobre Alice, ...to acompanhando a história daqui

=)

Beijo

Pedro Bom disse...

Não devemos esperar nada de quem não pode prometer...

Anónimo disse...

Olá :)
Já estou a seguir. Bom fim de semana também. Beijinhos

Francisco José Rito disse...

E venha o proximo! :-)

Beijos e continuacao de um bom domingo, Teresa

B! disse...

Obrigado pelo convite. Quando tiver tempo enviarei a minha parte =)

beijinhos

dani disse...

Olá,
Obrigada pelo convite.
Gostei bastante do que li, vou continuar a seguir a história.

Beijos

Dharma disse...

Ola
Obrigada pelo convite
Tenho a dizer que fiquei colada à aventura de Alice. Emocionei-me, enfureci-me... bem, um misto de emoções!
Parabéns!

;-)

Dharma

À PÉ ATÉ ENCONTRAR disse...

Nossa, overdose de Alice!
Quero sim!
Pois bem, adorei o blog, acompanharei com certeza, esteja a vontade lá no blog também.
Abraço.

Everson Russo disse...

Um feliz dia da mulher pra ti amiga...beijos na alma e uma bela semana.

Helena Castelli disse...

Teresa, "Alice"... feliz dia (todos) da mulher.

Com carinho.
Helena

NUMEROLOGIA E PROSPERIDADE disse...

Bom dia, minha querida amiga.
Passando para dar uma espiada nas novidades e parabenizá-la pelo grande dia de hoje.
Todas, mulheres tão bonitas quanto qualquer Estrela, que lutam todos os dias para fazer do mundo um lugar melhor para se viver.
FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... aproveita para desejar uma semana de muito Sucesso.
Saudações Florestais!
Em: http://www.silnunesprof.blogspot.com

karine c. disse...

Se importa de me seguir tbm ?
beijo

catwoman disse...

Compreendo a Alice(não a considero uma otária), também eu, numa situação totalmente diferente , esperei e acreditei que merecia um amor e um carinho que nunca veio, e continuei a esperar, sempre acompanhada...pelo vazio.
Bjs.

A Madrasta Má disse...

Claro que vim conferir minha querida, parabéns vc escreve muito bem! Adorei a narrativa e estarei a acompanhar!!! Bjinhos da Madrasta!