domingo

ALICE NÂO PODIA capitulo 11



Esperando a vida, Alice continuava desconfortável e conformada, aguardava pelo que já quase não conseguia imaginar. Mesmo assim voltava , pensando nunca se conformar com o conformismo, batalhava dentro dela , batalhas ensanguentadas de esperança e paixão. Repudiava a desilusão que se instalava por todo lado, sem que ela a conseguisse varrer para qualquer canto.
Já não ambicionava qualquer perfeição, calava-se para não se ouvir, tentava encerrar-se numa concha parda, igual a tantas que apanhava sozinha na meia praia..
Alice sempre foi livre. Sempre se tinha sentido assim, e hoje continuava presa em si mesma. 
Tinha voltado, não lhe fazia sentido não continuar o que não tinha terminado. Alice assim continuava...
As entradas e saídas de André, envoltas em mistérios e omissões, já não a assustavam. 
Alice fingia não repara das suas mentiras mal arquitectadas, não ouvia as mentiras de quem nem mentir sabia..
Convencia-se que poderia viver assim, desta forma hipócrita e bizarra, que se acomodavam dentro de si, procurando lugar para se sentarem comodamente.
Alice começava a não ter saudades do futuro.
Deixava André zarpar, voar, puxava cordas imaginárias sem nada perguntar.
Alice sabia que naquela altura , já tinha começado a perder quase tudo o que sempre pensou conquistar, não se derrotando , esperaria pelo quase que lhe faltava. 
Sentia o amor de André aos bocadinhos, assim como ele sabia dar, sorvia-o em colherezinhas de chá muito depressa só para não o deixar arrefecer. Bebia amor em gotas.
Conformava-se em saber que André poderia voltar a qualquer momento, já não pensava que o queria para sempre. 
Tomou-o como um ser irreal , que com toda a sua irrealidade nada poderia dar para sempre.
Viviam naquela casa voltada de costas para tudo, só com o rio em frente. Os veleiros que se alinhavam diante da sua varanda, troçando com todo o desalinho em que viviam. 
Alice e André, com medo de viver o amor, viravam-se para dentro de si próprios, para nada estragar, e nunca conseguindo arranjar nada. Hibernavam sentimentos, cada um à sua maneira.
E mesmo decidindo voltar , para nada finalizar, pois de finais nada entendia... Alice sabia que já não devia continuar assim.... desconexa da realidade , Alice já não sabia ouvir o desespero de André.
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PORQUE EU POSSO 

Falamos depois Alice!"
---Faltavam-me peças neste puzzle complexo, será que o posso acabar? jurei fazê-lo...só tenho medo do que não entendo ...e dele nada entendia----

DEIXA;ME EM PAZ! FECHA A PORTA!
VOU PORQUE EU POSSO!!

eu continuava a ouvir a sua voz, demasiado tempo...muito tempo... Escrevendo para a minha Lua amarela , naquela casa enorme. Aquela casa que tinha sido perfeita para viver um amor imaginado por mim.
Assim ficaria os próximos meses...quase sempre calada , sem ninguém que me pudesse
Escutar, sentada no chão tão frio, daquela imensa casa… Assim fiquei sem falar.
Não podia imaginar para onde ele iria, sem perceber nada… e percebendo quase tudo, fechei a porta.

FECHA A PORTA ALICE! Dizia-me olhando-me com olhos vermelhos.

Quase suplicando, eu só queria entender o que se passava com André.
Corri para aporta apavorada, não o podia perder, depois de tudo… simplesmente não podia.
André saiu, não querendo bater a porta. André nunca batia com as portas atrás de si, nem as sabia fechar.
Tinha batido com força na mesa.

VOU!... E SABES PORQUÊ ALICE? PORQUE EU POSSO!

A sua cor estava alterada, tudo à sua volta se movimentava, os seus olhos perdiam a luz.
A voz distorcida, gritava-me num som que eu não conhecia. Mostrava-me a bolsa de mão, uma pequena bolsa, a bolsa que levaria dali com ódio…
Desesperado, sem razão, submerso numa raiva imperceptível. Com a sua bolsa de mão, levantava-se e sentava-se no sofá da sala vezes sem conta.
“ Mas André…o que se passa? Tu sabes que o Vasco vem cá este fim de semana… e vais-te embora assim… para onde? Porquê?”

“AGORA DISSESTE TUDO ALICE! VOU-ME EMBORA… E VOU PORQUE EU POSSO!”

Tudo se alterava à minha volta, as cores, as formas, os sons. Entre soluços contidos e numa suplica enervante eu não entendia nada.
Gritava-me. E eu paralisava com os gritos que ouvis, os gritos lembravam-me outros gritos que eu já tinha esquecido e trancado numa “gavetinha”, da qual perdi a chave.

“PORQUE QUERO ESTAR SOZINHO! TU ESTÁS SEMPRE AQUI ALICE!... PORQUE NÃO TE VAIS EMBORA ESTE FIM DE SEMANA? VAI PARA CASA DOS TEUS PAIS! PORQUE NÃO ME DEIXAS AQUI SOZINHO?!

mandava me embora dali...da minha casa

“Mas agora…? Vais para onde André? Mas porquê…?”
Nem entendia que nem ele sabia a resposta para nada.
Eu mal o via, nem semi cerrando os olhos eu o conseguia ver , e de olhos alagados, eu perguntava-me o porquê de tudo.

“VOU-ME EMBORA!”
Uma bolsa na mão….
Os seus olhos raiados duma raiva que não explico…
Tinha aparecido na sala, eu escutava os ruídos que tinha feito no quarto… não me mexia no sofá…esperava.
Não imaginava que a partir daquele fim de tarde eu iria fazer muito, mas muito mais do que alguma vez tinha feito para me segurar dentro de mim… eu fiz tudo, e por amor eu pensei dar tudo.

---- onde é que eu errei?---
----os gritos que não suporto, os gritos que me paralisam , me deixam estática, me agoniam; os gritos que me fazem viajar para outras alturas…----

Esperava na sala… porque se irritava tanto? Pensava enquanto o carreiro de lágrimas na minha cara se ia inundando dum sal irritante… não entendia tanta incoerência.

--- a mensagem! Foi a mensagem que recebeu… nada disto faz sentido----

Tinha sido assim:
Irritando-se com o que dizia, do nada de fez discussão num jantar feito a correr, sem tema… o jantar demasiado cedo. O jantar pronto o Sol ainda brilhava dentro daquela sala de sofás amarelos e cortinas de linho.

---quando é que deixei de ser espontânea, quando é que deixei de ser a Alice?---

Eu aguentava o mal que eu própria me fazia, eu magoava-me sempre…a mim. Só a mim. Tentava descobrir com medo de perguntar, para não ferir, eu descobria. Sozinha, sempre sozinha.
“Alice… podes fazer o jantar mais cedo? Se não poder ser… eu como qualquer coisa por aí” disse-me nervoso, agitado , sem me olhar.
“Claro que sim…”
Sem razão de se zangar com mais ninguém zangava-se consigo, e rebentando de inquietação, explodia em insensatez…zangava-se só com o que secretamente pensava.
Depois de tentar mudar tudo de lugar, eu não sabia o que poderia mudar mais …tentava duma forma inglória transformar o imutável. E naquela terra, voltando, me afundava tão a Sul de mim.
Adivinhando que iria acabar sozinha…. As compras num saco… disfarçava, com um sorriso , um susto de pânico, sem perguntas , entrei em casa
André tinha entrado atrás de mim fingindo que nada se tinha passado, num jogo esquizofrénico, jogávamos um xadrez  sem reis nem rainhas, movíamos os peões que andam em frente…

---- mas de quem seria a mensagem que tanto o perturbou. Agitado , nervoso, desfigurado, tinha conduzido a carrinha até casa, à pressa galgou passeios---

O medo quase que me conseguia fascinar.
Tudo acontecia assim , sem tempo, sem aviso, sem nexo e sem razão.
Tinha lido uma longa mensagem no telemóvel, no supermercado eu esquecia-me do que comprava, eu olhava-o de longe, afastou-se de mim… fugia…. A minha vida por fiozinhos de marioneta.
Conduziu com fúria até casa, a mãos crispadas no volante, brancas.

--- vou ter que ir ao supermercado André. Queres vir comigo, compramos qualquer coisa para o jantar… já que queres jantar mais cedo----

Com todo o nervosismo que me mostrava, eu assustava-me. Eu olhava sem querer olhar… anoitecia tarde.
Jantámos quase calados, do nada a discussão…. A mensagem que tinha lido…
Pendente nem sabia de quê , enervava-me.

“VOU PORQUE EU POSSO! ”
“DEIXA-ME EM PAZ! VOU E NÃO SEI SE VOLTAREI MAIS! “
“FECHA A PORTA ALICE!”

Foi, eu fechei a porta, fechei devagar… 

4 comentários:

momo disse...

Ahora ya no puedo dejar de leer que pasará...
un beso

Inês Dunas disse...

Esta estranha dependencia q dominava a Alice, de certa forma, tb destruía André, que entre o controlo sobre ela e o seu proprio descontrolo necessitava de uma desculpa para fazer aquilo q movia, partir para uma presa nova q ainda pudesse encantar... Mas o amor de Alice não se permitia a dar desculpas... Alice amava tanto André q se começara a deixar de amar a si própria...
:(
Beijinho em ti!

Anónimo disse...

Continuo viciada na história

continuando assim... disse...

momo ...me encanta que estes por aqui

besos


Lou : obrigada mais uma vez :)